SÃO PAULO - A incerteza em relação às políticas monetárias de Estados Unidos, Europa e China e as remessas de moeda dos países emergentes para seus países de origem vêm fazendo com que o dólar comercial seja pressionado no Brasil e no mundo. Ontem, a moeda norte-americana encerrou o dia com alta de 0,28%, a R$ 1,82. Esta é a maior cotação deste o dia 11 de setembro do ano passado.
Em uma semana, o dólar comercial apresentou valorização de 3%, saindo de R$ 1,767 no dia 18 de janeiro, para o encerramento de ontem. Porém, nos últimos 12 meses, a moeda registra uma retração de 21,21%, quando era negociada a R$ 2,31 na venda.
"O que vem ocorrendo é uma correção dos mercados. É uma perspectiva de uma política monetária mais apertada na China que, na semana passada gerou uma realocação de recursos nos ativos, com a saída dos mercados emergentes e a volta para os mercados de origem", explica Julio Hegedus, economista-chefe do Lopes Filho e Associados.
Além da China, os Estados Unidos também devem passar por um arrocho monetário em breve. Na última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central do EUA), a decisão de manter os juros flutuando entre 0% e 0,25% ao ano já não foi unânime.
Na Europa, por sua vez, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, também afirmou que a decisão da autoridade monetária em manter o juro em 1% ao ano só ocorreu em virtude da situação econômica da Grécia, dando a entender que a taxa deve subir em breve.
A remessa feita por multinacionais e grandes investidores faz o dólar ficar escasso não só no mercado brasileiro, pressionando sua precificação para cima.
O especialista lembra ainda que, no Brasil, é ano de eleições e isso traz muita volatilidade para o mercado de câmbio. "Os indicadores são favoráveis, não teria grande realocação de recursos por conta dos números divulgados", afirma Hegedus.
Para a semana, a incerteza é muito grande e Hegedus projeta que a agenda pode trazer uma volatilidade ainda maior para a moeda norte-americana. "Aqui no Brasil teremos reunião do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] na quarta-feira", acrescenta Hegedus.
Na agenda internacional, teremos hoje a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido referente ao quarto trimestre de 2009. Na quarta-feira será realizada uma reunião do Fed. Na quinta-feira será divulgado o dado sobre os produtos Bens Duráveis nos EUA e, por fim, na sexta-feira será divulgado os dados do PIB dos EUA referentes ao quarto trimestre do ano passado.
"Tudo vai depender dos indicadores que serão divulgados nesta semana. A reunião do Fed será muito importante e deve ser acompanhada com muita atenção. A maior preocupação é com os números sobre o trabalho nos EUA", destaca o economista.
No longo prazo, Hegedus diz que o dólar comercial está estipulado em R$ 1,75. "Já estamos passando deste patamar, mas é claro que no final do ano pode ocorrer uma acomodação", afirma ele.
No mercado futuro da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F Bovespa), é possível ver a elevação da moeda norte-americana para o ano. Vale destacar que as cotações ali presentes não representam o desempenho da moeda no ano, pois os contratos são utilizados, principalmente, por exportadores para tentar garantir o preço da mercadoria.
Os contratos com vencimento para fevereiro deste ano mostram o dólar comercial a R$ 1,826. Já os contratos para julho de 2010, encerraram a sexta-feira com valor de R$ 1,839. Por fim, os contratos negociados para dezembro deste ano finalizaram a R$ 1,958.
"Isso reflete o momento, as incertezas que estamos passando, mas não significa que o dólar vai fechar neste preço. Se confirmar este patamar novo, acima de R$ 1,80, teremos que revisar. O preço de R$ 1,80 seria o teto", finaliza o economista-chefe.
Na BM&F, o dólar pronto finalizou a segunda-feira a R$ 1,823, na máxima, com valorização de 0,47%. Na mínima, ficou em R$ 1,805. Pouco depois das 16h30 (hora de encerramento do mercado de câmbio), a clearing da BM&F registrava volume de somente US$ 211 milhões. Não houve transações com dólar futuro e demais ativos na BM&F.
O clima no exterior foi favorável, sustentado por notícias positivas da Grécia e a perspectiva de que a nomeação do Ben Bernanke para um segundo mandato à frente do Fed seja apoiada. O mandato de Bernanke termina dia 31 e o Senado votará a indicação para um segundo mandato nesta semana. A Grécia captou 8 bilhões de euros com uma emissão de bônus de cinco anos oferecendo yield (rendimento) de 6,2% ao ano. Originalmente, o governo planejava levantar entre 3 bilhões de euros e 5 bilhões de euros, mas elevou o volume da oferta em meio à demanda, que atingiu 25 bilhões de euros.
Fonte: DCI
0 comentários:
Postar um comentário